terça-feira, 7 de agosto de 2012

O PROBLEMA DA MOBILIDADE URBANA

A mobilidade urbana é um tema cada vez mais em voga, visto que a população está aumentando, os carros, e as ruas continuam as mesmas.... O caos no trânsito e falta de políticas urbanas são temas cada vez mais populares, saindo do meio acadêmico e de especialistas e indo para conversas de bairros, de associações e entidades. Abaixo, segue um artigo super interessante da nossa amiga e convidada: a arquiteta e urbanista Gabriela Silveira - membro da ANTP (Associação Nacional de Transporte Público):

IMOBILIDADE URBANA
Hoje, às sete e meia da manhã um amigo já reclamava do caos no trânsito. Motoristas todos estressados, dizia ele! E não é só isso, já presenciei acidente de automóveis que estavam em alta velocidade e não respeitaram o espaço do outro, às seis e meia da manhã. Dentro dos ônibus, neste horário, também é comum motorista ser xingado por passageiro mal humorado, que está atrasado para o trabalho e tem de enfrentar o aperto rotineiro das lotações. E pedestre, então, encontra segurança para atravessar? E que risco os ciclistas enfrentam para atravessarem a cidade em suas bicicletas?
Uma coisa é certa: todos necessitam sair e chegar a algum lugar. Deslocar-se. Mover-se. Mas quando saímos de casa, falta espaço para circulação de pessoas, porque entupimos as ruas com veículos motorizados, que chegam a ocupar 70 % do espaço viário dos grandes centros urbanos para deslocar, apenas, 40 % das pessoas. O transporte público fica preso junto aos carros e motos nos congestionamentos. Não passa na hora planejada nos pontos. Atraso de milhares de pessoas, que, na verdade, têm de sair mais cedo do que deveriam, só para conseguirem chegar na hora. E muitas, ainda assim, não chegam.
A mobilidade urbana não está prejudicada apenas pelo uso excessivo de veículos motorizados particulares nas ruas. Também contamos com a dificuldade que boa parte da população tem em custear seus deslocamentos, o que gera grande demanda pelo transporte coletivo na cidade e alto índice de pessoas que não tem, sequer, como pagar por ele. O acesso ao transporte está diretamente relacionado à quantidade de deslocamentos feitos pela população, o que revela o potencial de mobilidade urbana. Quanto melhor a condição econômica do indivíduo, maior seu potencial de mobilidade, portanto, mais acesso ao que a cidade tem para oferecer. Portanto, a mobilidade urbana favorece a mobilidade social.
Tudo bem que muitos necessitem do seu carro para trabalhar, pois têm de carregar equipamentos, visitar clientes, entre outros, mas o que complica a calamidade do trânsito é que grande parte dos veículos circulam com apenas uma pessoa, sendo que tem capacidade para transportar cinco. Foi-se o dia em que carro era usado para passeio da família nos fins de semana. Agora, cada um tem que ter sua independência automotora. Estamos vivendo uma situação alarmante, em que a frota de veículos já é quase de um para cada habitante, porém, também somos milhares de passageiros em ônibus, a pé e em bicicletas.
Muitos veículos conduzidos por motoristas estressados e apressados geram um alto índice de acidentalidade no trânsito. Não há respeito pelas leis, pela prioridade aos mais vulneráveis, há muita poluição sonora e atmosférica, deterioração dos espaços públicos. São inúmeras as externalidades negativas geradas por esse sistema de incentivo ao automóvel adotado atualmente. E quem paga por tudo isso somos todos nós.
Devemos consolidar a cultura de meios não-motorizados de transporte como solução alternativa a situação. A bicicleta, que é considerada como veículo pelo nosso Código de trânsito Brasileiro, é acessível (baixo custo de aquisição e manutenção) a todas as classes da sociedade e por isso permite maior mobilidade, autonomia e acessibilidade também a diversas faixas etárias. Distâncias que são percorridas a pé, ou mesmo de carro, podem ser feitas por bicicleta com tranquilidade. Além de instrumento de inclusão social (aumenta o potencial de mobilidade de quem não pode custear o transporte motorizado), é elemento essencial para manutenção da saúde e bem estar, além de ser ambientalmente correta, possibilitar a democratização do espaço urbano, e ser muito eficiente nos deslocamentos porta a porta.
Esta é a alternativa que milhares de pessoas em Goiânia encontram para se deslocarem, mesmo sem segurança nas vias, mesmo sendo considerados invisíveis pelos motoristas e até sem contarem com locais apropriados nos seus destinos para guardarem seus veículos de duas rodas não-motorizadas. A opção existe e precisa ser considerada pela sociedade e pelo poder público.
Assim, podemos, então, encontrar alternativas para colocar a cidade ao alcance de todos.
Mas surge um outro ponto importante: quando, finalmente, as pessoas conseguirem sair de casa e chegarem ao seu destino, conseguirão acessar os serviços, mobiliários urbanos, adentrarem nas edificações? A cidade está realmente acessível? Para quem? Para homens e mulheres, crianças, adultos e idosos, pessoas com deficiências? Estamos pensando em promover o acesso de quem e onde? Ainda enfrentamos a grave falta de acessibilidade universal, daí, muitos quando conseguem chegar, acabam ficando do lado de fora.
Por que temos pensado em construir ruas para darmos mais espaço para os carros? Se damos mais espaço aos carros, perdemos espaço para as pessoas! E por que permitimos com que as calçadas sejam invadidas e praças destruidas para que se tornem estacionamentos? Por que, ao invés disso, não estamos incentivando o uso democrático da cidade para todas as pessoas? Por que não adequamos a cidade para a circulação das pessoas?
A cidade deve ser acessível a todos. Independente da classe, das particularidades físicas, da idade.
Temos tratado a cidade como se ela fosse um lugar sem dono. Todo esse caos e desconforto que sentimos nas ruas são reflexo da maneira como temos nos tratado, porque, na realidade, não damos a mínima atenção às pessoas e às suas necessidades. Estamos alimentando uma era de IMOBILIDADE URBANA, da qual todos nos queixamos, da qual todos saimos com sequelas. E parece não querermos estar preparados para mudar!

_____Gabriela Silveira
Arquiteta Urbanista
Membro da ANTP - Regional Centro-Oeste
(62) 8117-5834
www.twitter.com/G_abrielaS
www.facebook.com/silveiragabriela

Vale a pena refletir, a cidade é um meio vivo, que cresce e só basta a nós escolhermos se este crescimento será ordenado ou não....

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